O Estranho Oeste de Kane Blackmoon, por Duda Falcão

O herói solitário é um dos arquétipos mais interessantes da literatura fantástica. Ele permite explorar as profundezas do que move um personagem, em muitos casos melancólico, a realizar atos cujo nível de altruísmo é tão grande que flerta com a iminente autodestruição. Esse tipo de arquétipo pode ser visto na literatura em personagens como Brienne de Tarth, das Crônicas de Gelo e Fogo; nos mangás, como no caso de Guts, de Berserk; nas HQs, como no caso de Batman; e nos games, como  o clássico encanador Mario. Brincadeira. Nos games, o arquétipo pode ser representado por Kratos, na série de jogos God of War, em sua última aparição, onde a presença de um filho faz com que sua fúria irrefreável esteja agora contida.

 O herói solitário Kane Blackmoon é protagonista do livro O Estanho Oeste de Kane Blackmoon, do escritor, editor, professor e especialista em literatura brasileira, Duda Falcão. 

Levando em conta o momento e o fato de metade dos editores da revista terem zerado o jogo, é inevitável não comparar o personagem com Geralt de Rívia, o protagonista do livro e da série e dos jogos The Witcher. Apesar do arquétipo não ser incomum, pouquíssimas são as semelhanças entre os personagens que o representam. Kane é um pária, assim como Geralt, pelo fato de ser mestiço — indígena e branco —, sendo tratado com desconfiança por ambas as raças, seja pelas roupas que usa, seja pela cor de sua pele. Mas as semelhanças acabam por aí.

Kane é um caçador de recompensas do velho oeste que é tragado para um mundo paralelo de feitiçaria e, a partir de então, em vez de rastrear apenas homens, os monstros e feiticeiros gananciosos também se tornam seus alvos. Ele não foi treinado de maneira apropriada ou melhorado, muito menos teve seus sentimentos suprimidos por mutagênicos inseridos em seu corpo desde criança. Ele é um homem comum, que logo no início mostra compaixão mesmo quando precisa matar. E, ainda assim, sábio é aquele que teme a ira do homem gentil. No momento em que Kane entra no modo que apelidamos “fúria apache”, temos um dos momentos mais brilhantes do livro. Se coloque em seu caminho, e ele terá mais um escalpo para a sua coleção.

Kane também acaba sendo obrigado a aprender detalhes sobre magia enquanto se aventura, o que é muito interessante, pois acabamos aprendendo junto com ele. Em algum ponto, mesmo sem um conhecimento profundo a respeito de magia, ele usa o que sabe de maneira tão perspicaz que fica difícil não lembrar de personagens como John Constantine.

Sobre o trabalho de Duda Falcão, esse é o quinto livro de sua autoria. E, além de ministrar cursos e palestras, o autor é também idealizador e organizador de um dos maiores eventos de literatura fantástica do país, a Odisseia de Literatura Fantástica, que este ano acontecerá anualmente em Porto Alegre/RS.

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