Pessimismo. Em todos os âmbitos da vida do brasileiro, o pessimismo se enraíza com força. Não é de agora e nem de ontem. Há vídeos da época do Senna com pessoas dizendo coisas como “o Brasil tinha que ter alguma coisa de bom, né?”. É o pessimismo que deveríamos chamar de marca na cultura nacional.
Não se trata de preferir o que vem de fora, mas simplesmente de não gostar do que é daqui por puro pessimismo. É quase intrínseco. Sem falar que é mais fácil do que simplesmente dar uma chance ao nacional, como fazer uma matéria sobre um livro de terror em vez de uma matéria para se questionar por que o gênero não decola.
Pegar gosto por algo é uma questão de costume. É como ser acostumado a escrever no computador e passar a usar o celular, a ler no conforto de casa e ter que se habituar a ler no ônibus, ou se arriscar com os hashis em vez de garfo e faca. É algo que exige coragem, curiosidade e persistência, características de pessoas ousadas e inteligentes.
Em livros sobre técnicas de venda, aprende-se que nunca se usa termos negativos, como “não” e “nunca”. Você não vende um tênis dizendo algo como: “bom, esse tênis na verdade não é muito bom, também não é muito bonito e o preço talvez não se encaixe no seu orçamento”. A não ser que a pessoa esteja determinada a levar o tênis, será uma venda perdida.
É com a cultura do pessimismo que a literatura fantástica vem lutando.
Não tem absolutamente nada a ver com “literatura de entretenimento”, seja lá o que isso signifique, já que toda literatura é de entretenimento. Que outro tipo existiria? Literatura de tédio? Se com literatura de entretenimento estivermos querendo dizer literatura especulativa, bom, ela está longe de ser algo de consumo rápido e fácil. Se estamos falando de literatura de massa, então não significa necessariamente de fantasia.
Poe, Lovecraft, Mary Shelley, Agatha Christie, C.S. Lewis, Tolkien, Isaac Asimov e todos os escritores que moldaram os universos narrativos do século XXI inspirando moda, filmes, séries, livros, quadrinhos e cultura em geral, estão se revirando em seus túmulos.
E eu estou falando apenas dos escritores de livros. Há ainda os grandes precursores fantásticos de outras mídias.
É um crime chamar a literatura especulativa de literatura perecível. E se isso é um crime, falar em fórmula, na maior cara de pau, é um verdadeiro atentado, ainda mais em um espaço tão conceituado.
Fórmula é conteúdo de exatas; lá, um mais um sempre será dois. Na literatura, um mais um pode ser borboleta ou um disquete antimagnético de equação giroscópica omniestática.
E quanto à “fórmula” retratar nossa realidade de forma objetiva, isso é como dizer que a solução para a literatura fantástica é não escrever literatura fantástica.
Quando um autor local escreve, mesmo que seja sobre um vilarejo a uma distância de 35 universos daqui, sua obra ainda será considerada nacional, pois é inevitável que ele retrate sua própria realidade.
Quando você, leitor, for escrever artigos, principalmente para meios de grande circulação, lembre-se: pessimismo é preguiçoso, é fácil e é desserviço.
Comentário ao seguinte artigo publicado na Folha:
Muito bom texto!
<3
É a situação econômica não?
Não. Sempre foi assim independentemente da situação econômica. O povo brasileiro é pessimista, reclama o tempo inteiro, até que aparece alguém que se consagra e todo mundo fica se perguntando como ele conseguiu. A resposta é simples: ao invés de ficar reclamando que o Brasil não tem leitores, ele foi lá e formou seus próprios leitores.